Quando olhou pela janela, já havia começado a chover. Não havia prestado atenção ao som das gotas caindo, sua mente estava ocupada com outras coisas. O céu estava carregado das mesmas coisas que tentava evitar pensar. Seu tom cinza não ajudava. “Todos os meus pensamentos são ela”, aquela frase no final do filme o deixou cansado.
Mesmo
assim, saiu de casa. A cidade não parava só porque algo dentro dele parou por
um tempo. Ficou parado na chuva, sentindo-a em sua pele. Sentir, era isso que
queria, precisa lembrar que era humano.
Sentia-se
tão vazio e vivia tanto no automático que começou a se questionar se ainda
havia um resquício de humanidade dentro de si. Não conseguia lembrar quando seu
último sorriso foi sincero.
“Toda
tarde acaba em melancolia”, pensava agora naquele trecho daquela música. A cada
passo pelas poças de água, sem guarda-chuva (não quis se proteger, pensou que
seria melhor continuar sentindo a chuva o máximo possível), com o olhar baixo,
as olheiras estavam começando a se tornar comum, as rugas em seu rosto
aparecendo. O passado se foi.
Ao
menos era o que ele gostaria que fosse verdade. Mas o passado o assombrava. Não
conseguia se livrar dos fantasmas e das lembranças. Mais cedo naquele dia,
havia pago todas as contas, tinha alguns trocados para sobreviver até final do
mês. Perguntava a si mesmo se valia a pena viver assim.
Vale a
pena continuar escrevendo sobre melancolia e solidão? Palavras virtuais vão
ajudar a cicatrizar feridas? Talvez não. Talvez o que está sendo escrito seria
algo que eu gostaria de falar para alguém, mas não há ninguém. Ninguém que se
importe.
Tenho
os olhos úmidos, mas tenho chorado menos que nas últimas semanas. Mudei de
terceira para primeira pessoa porque se tornou pessoal. Era para escrever o
inicio de um livro, mas aqui estou eu desabafando sozinho. E assim que mudei
para primeira pessoa, parece que as palavras começaram a sumir.